terça-feira, agosto 02, 2005

Transportes às moscas

Gosto muito de conclusões disparatas, mais que não seja porque são muitas vezes as correctas.

Como diria o Dino Meira «meu querido mês de Agosto, por ti levo um ano inteiro a esperar». De facto, trabalhar em Agosto é do melhor que há: os transportes andam quase vazios, ou seja, às moscas. Ora, se andam às moscas e eu não vejo nenhuma, nós é que devemos ser as moscas. Como as moscas andam sempre perto da bosta, e fazendo algo do género A=B e B=C, assim A=C, os transportes públicos em Portugal são uma merda.

E pensar que demorei cerca de 29 anos a constatar isto.

Slalom ao idoso

A praia da Parede é conhecida pelos benéficos efeitos da sua água. Tem qualquer coisa a ver com iodo ou uma coisa parecida. Conclusão: é a Meca da Terceira Idade de toda a Estremadura. O que é bom também para mim. Mal saio do comboio sou confrontado com, literalmente, dezenas de idosos com o seu passo "apressado" para garantirem o melhor lugar na areia. Assim, começo logo o dia a praticar desporto, neste caso "slalom ao idoso". Sempre é melhor do que o "slalom à merda" que temos que fazer nos passeios. Sim, porque apesar da Parede ser zona de gente fina, a bosta pulula. Gente fina, mas hábitos bem grossos.

Velhote-yuppie-cowboy

No outro dia, no comboio para a Parede, vi um personagem estranhíssimo. Corpo de velhote, fato e gravata de verdadeiro yuppie e andar arqueado de cowboy. Para embelezar, trazia um boné como uma qualquer criança travessa. O que passou na cabeça do homem para fazer tal coisa? Eu diria que foi bom gosto. Haverá melhor coisa do que fazer os outros rir logo pela manhã?

Vi um vivo-morto, ou morto-vivo se preferirem

Na realidade, era uma mulher. Mas só podia estar mais para lá do que para cá. Realmente, não sei porque vou a ouvir música na minha viagem de comboio inicial (Póvoa - Alcântara Terra). É que já devo ter perdido verdadeiras pérolas do "portuguesismo".

Ainda não eram 7h30 e já uma senhora, com um ar sofrível, esmiuçava o rol de doenças que a atormentavam à amiga (que muito se deve ter arrependido de perguntar o educado «então como vai?»). E o mais engraçado, sem ter piada, era que a mulher estava no outro lado do corredor do comboio, ou seja, todos ouvimos o problema das costas, o inchaço com pus, as dores de cabeça, o facto de «isto está muito mal»... Estava à espera que a todo o momento entrasse uma equipa de reportagem da TVI para entrevistar a mulher mais doente do mundo. Mas assim não aconteceu. Ela lá continuou para deleite de todos nós. Ainda assim, acho que vou ter que dar o braço a torcer. É que nunca mais a vi.

O café dá o tiro de partida!

É verdade. É o café que nos leva a começar o dia. A partir do momento em que o bebemos, começamos oficialmente a labuta diária. A partir daí já podemos fazer tudo: comer feijoada, praticar alpinismo, acelerar como se não houvesse amanhã... Até podemos beber uma cerveja às 8h30 da manhã! Tudo porque já bebemos o café. Experimentem: primeiro pedem um café e logo de seguida pedem uma cerveja. Se o empregado perguntar se é para levar, não liguem. Ele não sabe o que é bom.

Isto deve ser o que pensa o tipo que vi num café da Parede. Bebeu um a seguir ao outro. Estarei fadado para encontrar os alcoólicos deste país, ou será que vivemos numa "alcoolidade" a que chama Portugal?

Boazona!

Não gosto de boazonas mas, antes que se levantem as vozes do puritanismo, também não sou gay. A questão está no conceito de "boazona". Para mim são aquelas mulheres que lançam olhares do género eu-sei-que-me-estás-a-galar-mas-aqui-não-tocas. Conhecem o tipo? Moças que apenas despertam tesão e nunca paixão.

No outro dia, uma dessas moças pediu-me lume. Depois de lhe ter acendido o cigarro, sorriu e despediu-se. Ao fim de três passos virou-se com o propósito de ver se eu estava a olhar para ela. Por acaso tinha a cabeça virada naquela direcção, tentando ver se o comboio aí vinha. No entanto, na cabeça dela, se eu para ali estava virado só a podia estar a "galar".

Pois não estava, nem tão pouco me interessa esse tipo de mulher (na realidade só me interessa uma). Mas devo tê-la feito feliz, porque foi embora a sorrir. E pronto, comecei o dia a fazer alguém infeliz sentir-se bem. Querem melhor acção?

"Cravas"

Sou fumador e desde há alguns anos a esta parte que me dediquei ao tabaco de enrolar. É só vantagens: gasto menos; fumo menos; e em casa o cheiro é mais suave.

Uma outra grande vantagem é o facto de não se ser "cravado". Quando alguém nos pede um cigarro, digo que é de enrolar e, na maior parte das vezes, agradecem mas não "cravam"... Mas isto é na maior parte das vezes. O problema é que em Alcântara isso não resulta. Com todos os "agarrados" que por ali passeiam, dizer que temos tabaco de enrolar é o mesmo que dizer ao padre que temos hóstia. E entretanto, o orçamento para tabaco aumenta à conta desta minha "boa-vontade".

Será que se mudar para cachimbo as coisas mudam, ou terei malta a pedir para dar uma chupada? No cachimbo, claro! Irra!

Dois Favaios, "saxavôr"

São 6H50. Como sempre, e depois de comprar o jornal, vou tomar o meu primeiro café. A empregada do quiosque já me conhece e apenas se limita a confirmar se vou beber o costume: «Café?», ao que respondo num inaudível «Sim, se faz favor» (com sono mas já respeitador dos outros. Afinal, uma pessoa que tem aquela energia logo pela manhã/madrugada tem que ser respeitada).

Vem a mulher dar-me aquele "caldo" preto, quando olha para o lado e, sem tugir nem mugir (mais que não seja, porque não é nenhuma vaca), "despacha" o pedido do recente estreante do balcão. Mas ao que parece é a estreia de hoje, porque o tipo já pisou este palco muitas vezes, tal a certeza com que a mulher o "avia". Será café com leite? Um suminho de pêra? Ou será um queque sem passas para não fazer mal ao estômago? Nada disso. São mesmo dois Favaios. Sim, dose dupla que o homem bebe de um só trago. Não sei se sentir inveja ou pena. Inveja porque ele bem pode estar a chegar do trabalho, bebendo a sua bebida retemperadora antes de descansar em casa; ou pena porque o Martini aquela hora é bem melhor...

Afinal, do que se trata?

Antes de começar a "postar", convém dar uma explicação prévia. Aqui irei relatar as pequenas coisas que testemunho na minha viagem diária para o emprego. Como “gasto” cerca de quatro horas por dia neste percurso, muita coisa acontece. São estes pequenos relatos, e seus devaneios, que aqui explico.

Já agora, convém revelar que à data que crio este blog já muitas das coisas se passaram. Tentarei no futuro ser o mais rápido possível e até, quem sabe, escrever no próprio dia. Mas, conhecendo-me como conheço, não me parece que isso vá acontecer com muita frequência…